11 de abril de 2012

Cecília Meireles

O sentir lírico de Cecília Meireles: "Eu canto porque o instante existe."
Raffaella Bortolotto - A Gazeta da Casa, Ano V, Abril de 2012


Cecília Meireles
Poetisa, professora, pedagoga e jornalista, Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 - 9 de novembro de 1964) é uma das vozes líricas mais importantes das literaturas em língua portuguesa.

Como ela mesma conta, a sua infância foi marcada pela dor e pela solidão, pois perdeu a mãe com apenas três anos de idade e o pai morreu antes do seu nascimento: "Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. [...] Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida."

Cecilia cursou a Escola Normal, formou-se professora, e com apenas 18 anos de idade, no ano de 1919, publicou seu primeiro livro, Espectro (vários poemas de caráter simbolista). Embora fosse o auge do Modernismo, a jovem poetisa foi fortemente influenciada pelo movimento literário simbolista. Em 1923 publicou Nunca Mais… e Poema dos Poemas, e em 1925 Baladas para El-Rei.

Cecília Meireles ecreveu várias obras na área de literatura infantil como, por exemplo, O cavalinho branco, Colar de Carolina, Sonhos de menina, O menino azul, entre outros. Estes poemas infantis são marcados pela musicalidade, uma das principais características da sua poesia. Sua formação como professora e seu interesse pela educação levou-a a fundar, em 1934, a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro. Em 1939 publicou o livro Viagem. A beleza das poesias trouxe-lhe um grande reconhecimento dos leitores e dos acadêmicos da área de literatura. Com este livro, ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.

Na sua poesia ela plasma o amor, a natureza, o infinito, a criação artística, seu sentir da fugacidade da vida: "Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade."

 


Motivo


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
não sei, não sei.
Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.