1 de dezembro de 2011

Cora Coralina

Cora Coralina, a doceira das palavras: "Coração é terra que ninguém vê"
Raffaella Bortolotto - A Gazeta da Casa, Ano IV, Dezembro de 2011


"Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove." Essa é Cora Coralina.

Considerada a grande poetisa do Estado de Goiás e uma das principais escritoras brasileiras, Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas (Cidade de Goiás 1889 - Goiânia 1985), apesar de ter cursado apenas até a terceira série do primário, aos 14 anos escreveu seus primeiros contos e poemas. Também chamada de Aninha, virou Cora aos 15 anos, Cora, derivativo de coração, para se diferenciar de tantas Anas da cidade, batizadas todas em homenagem à santa padroeira. Cora Coralina, coração vermelho, gostava de contar.

Tornou-se doceira para sustentar os quatro filhos depois que o marido, o advogado paulista Cantídio Brêtas, morreu, em 1934. Cora considerava seus doces cristalizados de caju, abóbora, figo e laranja, que encantavam os vizinhos e amigos, obras melhores do que os poemas que escrevia em folhas de caderno: "Se a gente cresce com os golpes duros da vida, também podemos crescer com os toques suaves na alma", afirmava.

Aprendeu a datilografar aos 70 anos, e publicou o seu primeiro livro de poesia, Poema dos Becos e Estórias Mais, em junho de 1965, dois meses antes de cumprir os 76 anos. Seguiram Meu Livro de Cordel publicada em 1976, e Vintém de Cobre (1983). Em 1984 recebeu o Grande Prêmio da Crítica/Literatura, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, e o Troféu Juca Pato, concedido pela União Brasileira de Escritores. Tragédia na Roça foi seu primeiro conto publicado.

Assim o poeta Carlos Drummond de Andrade manifestava a sua admiração numa carta dirigida a Cora em 1983: "Minha querida amiga Cora Coralina: Seu Vintém de Cobre é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia [...]."

Com certeza, nessa terra que ninguém vê, a Aninha pertence um pouco a todo o mundo.


Assim eu vejo a vida

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo.
Aprendi a viver.

CORA CORALINA