12 de junho de 2012

Caio Fernando Abreu

CAIO FERNANDO ABREU: "A VIDA, APESAR DE BRUTA, É MEIO MÁGICA"
Raffaella Bortolotto - A Gazeta da Casa, Ano V, Junho de 2012


Contista, romancista, dramaturgo, Caio Fernando Loureiro de Abreu (Santiago do Boqueirão, RS, 1948 - Porto Alegre, RS, 1996) inicia os cursos de Letras e Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas abandona ambos para trabalhar como jornalista, sendo essa atividade a sua principal fonte de subsistência, com a qual mistura a carreira literária. Em 1968 transfere-se  para São Paulo, após ser selecionado, em concurso nacional, para compor a primeira redação da revista Veja. No ano seguinte, perseguido pela ditadura militar, refugia-se na chácara da escritora Hilda Hilst, em Campinas, São Paulo. A partir daí passa a levar uma vida errante no Brasil e no exterior. Fascinado pela contracultura, viaja pela Europa de mochila nas costas, vive em comunidade, lava pratos em Estocolmo, e considera a possibilidade de viver de artesanato em uma praça de Ipanema. Na década de 1980, escreve para algumas revistas e torna-se editor do semanário Leia Livros. Em 1990, Abreu vai a Londres lançar a tradução inglesa de Os Dragões Não Conhecem o Paraíso (1988). Quatro anos depois, em 1994, ele vai para a França a convite da Maison des Écrivains Étrangers et des Traducteurs de Saint Nazaire, onde escreve a novela Bien Loin de Marienbad. Em setembro do mesmo ano escreve em sua coluna semanal, no jornal O Estado de S. Paulo, uma série de três cartas denominadas Cartas para Além do Muro, onde declara ser portador do vírus HIV.

À medida que sua produção se desenvolve, a identificação não se faz mais com a geração dos anos 60-70, mas é designado porta-voz daqueles que se sentem sufocados em uma sociedade massificadora e alienante, independente de uma filosofia de grupo. Ele é o escritor que fala da falência dos sonhos, mas principalmente da inadequação e do vazio das pessoas no cenário das grandes cidades: "De repente, estou só. Dentro do parque, dentro do bairro, dentro da cidade, dentro do estado, dentro do país, dentro do continente, dentro do hemisfério, do planeta, do sistema solar, da galáxia — dentro do universo, eu estou só. De repente. Com a mesma intensidade estou em mim." Na obra, é nítido o tema da constante busca por algo capaz de dar sentido à vida, pela possibilidade de  descobrir uma forma de realização pessoal que supere o esmagamento dos sonhos.

Assim, Caio lida com temas universais e permanentes, inerentes aos questionamentos mais profundos do ser humano, e transcendentes às circunstâncias sócio-históricas: "Eu sei que dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai aguentar, mas aguenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar."


Em cima, Caio Fernando Abreu, jornalista, contista, dramaturgo. E poeta:

"Vem, antes que eu me vá, antes que seja tarde demais. Vem, que eu não tenho ninguém e te quero junto a mim. Vem, que eu te ensinarei a voar."