Raffaella Bortolotto - A Gazeta da Casa, Ano III, Dezembro de 2010
"Conversar é muito importante, meu filho, toda palavra, sim , é uma semente." É a messagem que nos transmite Lavoura Arcaica, o romance estreia de Raduan Nassar. O
Narrado em primeira pessoa, é o conto de André, um rapaz que se rebela contra as tradições agrárias e patriarcais, e foge para a cidade à procura da sua identidade (“Eu posso ser o profeta da minha própria história.”). No entanto, ele acaba numa pensão medíocre de um vilarejo, onde é encontrado pelo irmão mais velho, Pedro, que tinha sido mandado pela mãe a buscá-lo a fim de reconstruir a unidade familiar. Ali, André começa a lhe contar os motivos da sua fuga e do conflito contra os valores paternos (“Nessa casa, tudo é impregnado da palavra do pai.”), fiados na doutrina cristã: o tempo, a paciência, a família, a terra. De volta para a fazenda, André é recebido pelo pai numa longa conversa que, ao invés de resolver o conflito, evidencia essa distância insuperável entre gerações. Daí que a história pode ser lida também como uma versão invertida da parábola do filho pródigo.
O modo elíptico de o narrador contar, a falta de pontos continuativos – não há parágrafos, cada capítulo é narrado num só período –, o conteúdo em si iam me deixando quase sem fôlego e ao mesmo tempo com vontade de continuar lendo. Adorei o lirismo, a elegância da prosa, a minúcia na escolha das palavras, a competência linguística do autor. É a história na história, onde o não dito é quase mais importante do que o narrado. Pessoalmente, concordo com a crítica, trata-se de uma verdadeira obra-prima.
O livro virou filme em 2001, com o mesmo título, por obra de Luiz Fernando Carvalho. O diretor transpôs para a tela quase o texto inteiro: o resultado são cenas longas, conversas que na verdade são extensos monólogos, citações textuais. No filme, a palavra torna-se imagem, a narração falada, ação visual.
Alguns críticos cinematográficos falam que o filme é uma poesia de imagens e palavras e a ótima técnica fotográfica de Walter Carvalho transforma cada cena numa pintura. E é mesmo.
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Raduan Nassar |
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