1 de agosto de 2011

Dalton Trevisan


Dalton Trevisan, o criador do miniconto contemporâneo brasileiro
Raffaella Bortolotto - A Gazeta da Casa, Ano IV, Fevereiro de 2011


Dalton Jerson Trevisan (Curitiba, Paraná, 14 de junho de 1925) é considerado por grande parte da crítica brasileira o mestre atual do gênero literário do conto, o maior contista moderno do Brasil.

Em 1945 Trevisan estreou com Sonata ao Luar e no ano seguinte publicou Sete Anos de Pastor, ambos renegados pelo autor, que declara não possuir sequer um exemplar dos livros e que "felizmente já esqueci aquela barbaridade". Em 1959 ele chamou a atenção da crítica e conquistou o grande público com Novelas Nada Exemplares, que ganhou o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro. No começo dos anos setenta, Trevisan foi incluido na antologia O Conto Brasileiro Contemporâneo, dirigida por Alfredo Bosi, junto com Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Rubem Fonseca, entre outros. Seu único romançe publicado é A Polaquinha (1985).

Personagem enigmático, avesso a fotografias, recusa a fama, criando una atmosfera de suspense em torno dele. Aliás, o escritor nem gosta das entrevistas e exposições em órgãos de comunicação sociais. Por causa disso, ele recebeu a alcunha de "Vampiro de Curitiba", nome de um dos seus livros.

Se já nos primeiros livros Dalton tinha chamado a atenção pela estética minimalista, em 1994 com Ah, é? o escritor inaugurou o miniconto contemporâneo brasileiro. No ano, seguinte foi publicado Dinorá, considerado um verdadeiro ponto de partida para compreender a obra do vampiro "iconoclasta ou alienado, que abomina o social e o político", como o próprio autor se define. No livro, inspirado nos habitantes da cidade, se alternam contos de até dez páginas com contos de menos de uma, que mostram o domínio técnico do autor curitibano na criação dos seus personagens por meio de uma linguagem concisa e popular.

Em 2007 foi lançada uma edição revista da obra que possivelmente melhor sintetize Dalton Trevisan (Dinorá, Editora Record Ltda., Rio de Janeiro 2007) e da qual escolhi um miniconto para nossos leitores se deleitarem. Curtam a leitura.

O MENINO

No jardim da saudade o homem de mão dada com o menino. Ao longo da grama verdinha, em silêncio por entre as lousas brancas. Diante do túmulo querido baixam a cabeça e sussurram uma prece.

- De que você mais gosta, meu filho, quando vem aqui?

O murmúrio sereno da pequena cascada nos degrau de pedra. As árvores anãs. O canteiro de imaculados seixos redondos. O jogo de sombras na trilha sinuosa do bosque.

Ao longe, na rua, os carrinhos de pipoca, sorvete, cachorro-quente.

E o menino, banguelo e feliz:

- De comer.

Dalton Trevisan