20 de junho de 2016

África no Brasil

A contribuição africana ao português do Brasil
Raffaella Bortolotto - A Gazeta da Casa, Ano IX, Junho de 2016

 
O português falado no Brasil tem muitas palavras de origem africana que chegaram junto com a vinda dos escravos desse continente a partir do século XVI. Eles foram extraídos de duas regiões subsaarianas : a região bantu, situada ao longo da extensão sul da linha do equador, e a região oeste-africana ou sudanesa, que abrange territórios que vão do Senegal à Nigéria. O povo Bantu foi um dos primeiros a fazer a viagem no tráfico transatlântico. Por isso a variedade de termos de origem africana que há no diccionário brasileiro provém sobretudo do grupo bantu, que compreende a família linguística Níger-Congo com as línguas  quicongo (o quicongo é falado na República Popular do Congo), quimbundo ( o quimbundo é a língua da região central de Angola),  e umbundo ( umbundo é falado no sul de Angola e em Zâmbia).
Palavras como abadá, caçamba, cachaça, cachimbo, caçula, canga, carimbo, caxumba, cochilar, corcunda, fubá, macaco, maconha, macumba, marimbondo, moleque, tanga, xingar, banguela, babaca, batuque, berimbau, bunda, samba, cafundó, quilombo, zumbi... de lá é que provêm.
 
No entanto, as interferências nem só se dão no léxico, senão também na morfologia e na sintaxe, com a simplificação e redução das flexões. Essa característica pode ser observada principalmente na linguagem popular, nessa parte da população em que as pessoas raramente utilizam as desinências de plural, que tendem a se restringir ao primeiro determinante da frase: “As primas já chegaro”; “Esses menino são endiabrado

Também nas línguas africanas não há o conhecimento da separação por gênero como em português a/o (bonito/bonita), o que pode contribuir  para  explicar a volubilidade de gêneros nos nomes (“minha senhor”) que  se observa na fala popular. Além disso, outro importante fato a ter em consideração é a interferência na pronúncia: a inclinação do falante brasileiro em omitir a última consoante  das palavras ou transformá-las em vogais ( “falá”, “dizê”, “dirigî”, “Brasiu”) coincide com a estrutura  silábica  das  em bantu, que nunca terminam em consoante.
Na estrutura silábica dessas línguas africanas também não há o encontro consonantal, como ocorre na linguagem popular brasileira. Há a tendência de desfazer esse encontro e fazer uma nova sílaba ao se colocar uma vogal entre elas: sarava (salvar), fulô (flor), etc.
Ainda, é considerada como de origem africana a semivocalização do "l" palatal ("lh"), que se observa na pronúncia popular em algumas regiões do Brasil: muyé por mulher; fiyo por filho; paya por palha. 

É bem certo que o português falado no Brasil
herdou muitos vocábulos das línguas africanas. Mas também poucos, considerando o total deles, sendo que desses que chegaram até nós, a grande maioria está relacionada ao trivial,  palavras em relação à religião deles, à culinária ou qualquer outro assunto referente ao ordinário.  Portanto, essa mesma cultura não foi tão incisiva  assim nos termos de vocabulário. Na verdade, tendo em vista os aspectos observados, onde a influência africana se dá principalmente é na tendência à simplificação. Aliás, a sua grande contribuição está mesmo na oralidade,  numa fala mais aberta e com mais curvas, o que a faz dissociar consideravelmente do português de Portugal.


 
 

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