9 de julho de 2011

Da Língua Portuguesa

Ler em português: descobrindo uma paixão
Raffaella Bortolotto - A Gazeta da Casa, Ano II, Junho de 2009



Contam os linguistas que a língua portuguesa tem suas origens num pequeno território do canto noroeste da Península Ibérica, a Gallaecia Magna. Derivada do latim vulgar, desenvolveu-se na Lusitânia nos primeiros séculos da era cristã, epoca em que o Império Romano conquistou a região e instituiu o latim como língua oficial. Sucessivamente, com os descobrimentos marítimos dos séculos XV e XVI, o idioma se espalhou em quatro continentes, até ser falado, hoje em dia, por uns 220 milhões de lusófonos, entre Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Timor Oriental e Guiné- Bissau.

Uma língua, o português, que ultrapassa, portanto, as fronteiras geográficas, para ser pátria comum de grandes sensibilidades poéticas, em cujas criações literárias ela se plasma.

“A minha pátria é a língua portuguesa”, afirmou o poeta Fernando Pessoa (Lisboa, 1888 – Lisboa, 1935). Uma língua que é também pátria de outras figuras excelentes no âmbito da literatura, entre as quais o moçambicano Mia Couto (Beira, 1955) e os brasileiros Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 1902 – Rio de Janeiro, 1987) e Cecília Meireles (Rio de Janeiro 1901 – Rio de Janeiro 1964), considerada a primeira grande escritora brasileira e principal voz da poesia moderna do Brasil.

Como não nos apaixonarmos por uma língua que deu de presente ao universo literário as reflexões do Drummond sobre o papel do homem no mundo? Como não tropeçarmos com ele na “pedra” do seu “caminho”? Como não nos perdermos na “viagem” da imensa Cecília Meireles, na sua reflexão filosófico-existencial, no seu eu-lírico, no seu cantar poético. (Eu canto porque o instante exixte/e a minha vida está completa./Não sou alegre nem sou triste:/sou poeta. <…>)Se  "A poesia é incomunicável”, como recita uma estrofe do Drummond, quanto se perde na tradução? Quanto deixaríamos no caminho, traduzindo o lirismo delicioso de Mia Couto, segundo o qual “As letras igualam as estrelas: mesmo poucas são infinitas”? E quantos matizes nós perderíamos do “desassossego” de Fernando Pessoa, do seu canto existencialista profundo, do seu “fingir"(O poeta é um fingidor./Finge tão completamente/que chega a fingir que é dor/a dor que deveras ente.<…>)?

Eu acho que comecei a me apaixonar pelas letras portuguesas numa das primeiras leituras que fiz em original, mal li aquele "A velha dobrou as pernas como se dobrasse os séculos”, que dá início ao conto A carta, de Mia Couto. E linha trás outra, quanto mais eu ia avançando, mais ficava presa naquela maravilhosa intensidade.

A intensidade de um dos tantos tesouros literários que o português esconde. A beleza de uma língua apaixonante e o melhor caminho para descobri-los.


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