12 de julho de 2011

Nélida Piñón

Nélida Piñón: a importância de olhar para o outro e sentir a sua emoção
Raffaella Bortolotto - A Gazeta da Casa, Ano II, Novembro de 2009



Mais uma vez, Casa de América recebe a famosa escritora, membro da Academia Brasileira das Letras, Nélida Piñón (Rio de Janeiro 1937), prêmio Príncipe de Asturias das Letras 2005 e autora do romance A República dos sonhos entre outros.

No acabar do dia 8 de outubro, na sala Bolívar, ela encontra seus leitores, aos quais agradece a presença: “Na literatura somos todos irmãos, estamos amalgamados pelo amor pela palavra”, diz-nos num tom confidencial.

Nélida está em Madri para apresentar seu último livro, Coração Andarilho, uma obra memorística que oferece uma perspectiva reflexiva sobre sua própria existência. Na obra, não são os fatos que falam, mas as sensações, os sentimentos.

Trata-se de uma “saga familiar na memória”, onde ela narra os momentos da sua infância vividos na Galícia, terra de procedência da sua família, e descobre a importância da presença, naquela fase da sua vida, do seu avô Daniel, o qual queria que ela fosse uma menina singular, com uma educação excelente.

Então abriu-lhe uma conta sem limites numa importante livraria do Rio, onde ela podia escolher suas leituras livremente, sem censura.

Assim foi como ela foi abrindo portas a novas percepções, e não somente na literatura, mas também na música, na ópera ou no ballet, pois apaixonava-se por tudo. Daí a relevância que tem para ela o fato de ter sido educada numa família liberal.

É um verdadeiro prazer nos deleitar na escuta dos seus relatos, ouvi-la compartilhar conosco seus momentos privados, com essa gravidade que ela tem, garantida por uma sabedoria ganha no transcurso de anos de semeadura e colheita de pensamentos e palavras.
Aprofundando-se na conversa, revela-nos que o escritor pode dar vida ao que aparentemente está morto, um trabalho fascinante que o leva à exploração da alma humana.

Segundo Nélida, existe um mistério na criação literária, a grandeza do texto está na sua imponderabilidade: “ O texto me excede, ele é capaz de falar mais, para além das minhas intenções”.
Imersa no “campo fértil da memória”, a escritora nos confessa que a sua mãe ensinou-lhe o caminho para a velhice. Afirma estar curtindo muito sua serenidade atual: pensar, sentir, se emocionar. Acrescenta que ela gostaria de escrever sempre e que o único medo que ela tem é perder a capacidade de se comover, pois olhar para o outro e sentir sua emoção é o que dá sentido à sua vida.

Concluindo, fala a Nélida que sentimos ainda mais próxima, a Nélida que nos quer transmitir sua felicidade pela entrada na sua vida de uma forma de amor para ela tanto inédita quanto surpreendente, trazida da mão do seu Gravetinho: “ Jamais imaginei que poderia me apaixonar tanto por um cachorrinho. Sei que ele fica lá me esperando e estou desejando voltar para casa. Como se eu fosse Ulisses, volto a Ítaca.

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