6 de julho de 2011

Luis Fernando Veríssimo

Luis Fernando Veríssimo: crônica de um encontro
Raffaella Bortolotto - A Gazeta da Casa, Ano II, Abril 2009


No passado 18 de fevereiro, um acolhedor Madri ensolarado recebeu Luis Fernando Veríssimo, um dos escritores mais lidos no Brasil, de visita à Espanha para promover a edição do seu romance Borges y los Orangutanes Eternos.
 A Embaixada do Brasil, em colaboração com a Fundación Cultural Hispano-Brasileña, abriu as portas para nos convidar ao sarau literário com o filho do também famoso escritor Érico Veríssimo.

Nacido em 26 de setembro de 1936 em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, figura polifacética, defensor dos direitos humanos e da liberdade, Veríssimo recebeu numerosos prêmios nesse âmbito e pela sua extensa obra. Na atualidade, publica suas crônicas duas vezes por semana no jornal O Globo.

Cronista, romancista, poeta, humorista, autor de textos para a televisão e o teatro, saxofonista, amante do futebol, da música, do desenho, ele é sobretudo um “apaixonado pela vida”, segundo suas próprias palavras.

Poucos minutos antes de começar o ato, a elegante sala da embaixada dedicada ao evento fica cheia, o ambiente é cálido, há um vibrante ar de espera. Dispomo-nos ordenadamente a conversar com Luis Fernando, ele no centro, nós ao seu redor. É a estampa própria de um descontraído encontro informal.
O escritor se acomoda no confortável sofá de estilo neoclássico e com ele senta-se todo o peso enriquecedor de uma existência vivida intensamente.

Homem de temperamento reservado, ele se revela modesto, agudo, sutil, irônico e autoirônico, encantador desde o princípio.
A agudeza e o senso do humor de Veríssimo entram logo em cena: “Por favor, botem outra cadeira aqui para meu ego!”, ele diz após a breve mas substanciosa apresentação do professor Antônio Maura diretor da cátedra de Estudos Brasileiros da Universidad Complutense de Madrid.

Aliás, a magia da sua crônica está em tratar o aspecto crítico com senso de humor: “O humor é um instrumento com que se podem fazer comentários de modo acessível”, explica-nos. “Quando comecei a escrever, em 1967, havia assuntos proibidos, não dá para comparar com agora”.
E continua: “Comecei a trabalhar na cozinha do jornal, fazia o horóscopo. Como a gente só se importa com o próprio signo, cada dia eu mudava o mesmo prognóstico para outro signo, e ninguém se dava conta…


Cruzamos com o olhar agudo do escritor
Borges y los Orangutanes Eternos é uma história policial na qual o escritor argentino Jorge Luis Borges não só faz parte da história como também tem de resolver um crime, o qual, por sua vez, é baseado numa história de Edgard Allan Poe, o inventor do romance policial.
Ao lhe perguntarem se não considera egocêntrico ser o personagem dos seus próprios romances, Veríssimo responde que “é verdade que o narrador de alguma maneira representa o autor, mas também é verdade que todo mundo escreve um pouco sobre si mesmo e seu próprio pensamento”.
 
E sobre si mesmo Luis Fernando tem tido muito tempo para escrever. Percebemo-lo na distância curta, quando nos sentamos ao lado dele para a dedicatória no livro. Agora, mais de perto, cruzamos o outro olhar de Veríssimo, o olhar direto e profundo do poeta, o olhar introspectivo que nos lembra aquela sua aguda reflexão que alguma vez, em algum lugar, lemos e reconhecemos: “Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas a perguntas…”



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